quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Por que eu odeio carnaval?


São tantos os motivos que me rodeiam a cabeça quando me fazem tal pergunta, que fica até difícil enumerá-los. E por conta disto, acabo quase sempre não apresentando motivos sólidos e racionais, deixando-me levar pela explosão espontânea de minha repulsa, direto do sistema límbico para as cordas vocais.

Procurarei então, aqui nas próximas linhas, definir o que mais me incomoda neste repugnante costume primitivo cuja reputação nos dá estereótipo perante o mundo (eu sei, menos revolta e mais argumentos... tentarei!).

Sem querer, já comecei a revelá-los antes da hora, me referindo ao estereótipo do brasileiro bronzeado, bêbado (quase que possuído), e a mulata com chiliques e trajes que pouco deixam à imaginação pervertida de todo bom sacana como eu.

Não, não sou feminista. Porém, o papel da mulher no carnaval me chama bastante atenção: o tamanho do traje da mulata é geralmente proporcional ao tamanho de seu cérebro. Ela sabe, todos fazem questão de lembrar, que a cada tudun da bateria da escola de samba o traje se enterra cada vez mais em suas dobras, acompanhando a atrofia de seu recheio craniano sabor chocolate vencido. Mesmo assim, nossa sociedade prefere uma inspiração de punheta à símbolos de caráter ou sabedoria.

Não, também não sou preconceituoso. Lembrem-se que estamos falando de um “estereótipo”, o estereótipo da mulata do carnaval, e não de toda uma raça, de toda uma nação, nem de todo o gênero feminino.

É claro que ao redor do globo, em várias culturas encontramos semelhantes à esta imagem – mesmo que em menores proporções - como as cheerleaders, misses, etc., porém, estas não são símbolo de um país.

Este é o capítulo da narrativa o qual gostaria de deixar por último, como triunfal conclusão de todo o raciocínio, mas não o conseguirei. Talvez por que tenha mais propriedade sobre o assunto por ser músico, ou por tamanha facilidade do alvo. Refiro-me ao ponto de vista musical do carnaval, sempre chulo, repetitivo e tribal. Seria realmente necessária a composição de quase um exército de “músicos” (sic.) para se reproduzir uma harmonia tão pobre e um ritmo tão primitivo? A resposta é sim. Infelizmente sim. Talvez (eu espero), isso tudo tenha começado com a alta contingência de foliões, pois todos da comunidade têm o direito de se divertir. Outra maneira de conceber o fato, é partindo da idéia de que todo trabalho musical, por menos complexo que seja, depende de certa habilidade e inteligência na execução, o que demandaria um grande grupo de acéfalos, ou seja, a limitação pessoal é compensada pelo trabalho em equipe.

As letras tentam abordar popularmente temas dos mais variados, acompanhando a profundidade intelectual da grande massa, sempre de uma forma banal e generalizada. As frases são musicadas por alguma voz rouca e bêbada (e não estamos falando de nenhuma Janis Joplin, nem Louis Armstgrong, ou nem mesmo Joe Cocker), com variações cromáticas de fácil entendimento até para o público demente.

O carnaval nos traz uma gama imensa de gêneros musicais odiosos como o axé, pagodinho, funk carioca, e outros que por graça maior eu desconheço. Mas retornemos ao meu alvo, que é o estereótipo carnavalesco, pois do contrário me delongaria o bastante para gastar os dedos.

Outro ponto que me causa ojeriza é a poluição visual dos desfiles. Como alguém com o mínimo de bom gosto pode achar aquele show de horrores colorido e brilhante algo de valor estético? Aquilo pode ter sido elegante e glamouroso há alguns séculos atrás, notando que os trajes (quando visíveis) lembram vestimentas vitorianas – com um toque abaianado, entenda como quiser. Por fim, as grandes estruturas móveis a lá cavalo de tróia que carregam a tropa invasora é sempre um brilho a parte, balançando aos remelexos dos “habitantes”, quase que desmoronando.

A esta altura, sinto-me mais seguro para tecer alguns comentários latentes em minha revolta, pois os grandes fãs de carnavais já desistiram de ler tal texto tão extenso, e sem nenhuma figura para lhes dar a comum e necessária sensação de vantagem e trapaça.

Há uma determinada região deste país, em que o carnaval perdura o ano todo, transformando qualquer coisa em motivo de folia. Lugar em que a alternativa de personalidade libertina da festa se torna predominante, justificando a pobreza intelectual de seu povo. Quem de bom senso já conheceu lugares assim sabe do que estou falando. É o caso em que a socialização extrema causa o definhamento social. São pessoas pouco higiênicas, castigadas pelas longas horas de passinhos e pulinhos afeminados, o sol incessante e bebida a role. Não se sabe se o lugar tem problemas de saneamento ou se as pessoas é que o ignoram.

O carnaval, a festa em geral, serve como uma espécie de botão ‘desliga’ à vida cotidiana, fazendo valer toda e qualquer vontade que se têm, com a desculpa da libertinagem proposta neta época. Não tenho nada contra isso, também tenho meus períodos ‘off’, sem os quais eu não me organizaria socialmente. O problema é que uma vez por ano sofremos com apelação desta festa de forma prática, e somos alvo de estereotipagem lá fora durante o ano todo. Ser brasileiro é pular carnaval, ser brasileiro é saber jogar futebol, ser brasileiro é mijar na rua, ser brasileiro é não respeitar nada que lhe é imposto e ter a desculpa de ser um “povo festeiro, caliente e acolhedor”, ser brasileiro é tudo isso e mais um pouco, e nem tenho mais gosto de me prolongar.

Entenderam?

Por Luciano A. Palmas

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